Numa praia do sul

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Publicado em

A Afonso Cautela

Aqui numa praia do sul o vento é morno
e os dias são de cera. Retiro
as escamas do quotidiano pensar.
Ácidas, salitrosas. E assim mergulho
numa lentidão de algas e sal.
Assim te imagino, aldeia longínqua,
cada vez mais sepultada entre vinhedos.
Algures no norte. Semeada no sol.
O meu tronco de zimbro precisava
deste amolecimento erigido em saliva.
Precisava, sim, precisava de praia.
A praia todavia sou eu. É sobre mim
que me estendo. Eu, a areia; eu, o jornal;
eu, todos aqueles que não podem vir à praia.
Eu petrificado em sal como a mulher de Lot.

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