Mulher do campo

Avatar de António Cabral

Publicado em

Ia para o campo sempre com alguma coisa na mão, uma cesta, uma cordinha para atar qualquer coisa de trazer à cabeça, quando não uma alvorada, uma daquelas que eu já tinha visto à entrada de sua casa e a todo o momento o vidro ameaçava partir.

As manhãs de Julho são mais quentes e a luz já não aparece franjada de gotas de orvalho que facilmente se transformariam num bando de pássaros, como eu desejaria.

Chama-se Leonor como a que ia descalça para a fonte do poeta — um nome vulgar, se o escrevermos simplesmente e não nos apercebermos de que os nomes se misturam com as coisas, sendo às vezes impossível estabelecer a diferença.

— Bom dia.

— Bom dia, Leonor.

Dito assim, o nome cobria-se de vogais. Era um regalo — ainda hoje, — vê-lo subir às árvores, quando ela aparecia na esquina. Está mais velha, comida aqui e ali pelo tempo, mas a sensação de a ver mantém-se inalterável, bem sabendo eu que à entrada de sua casa as alvoradas se foram partindo sucessivamente.

As manhãs de Julho continuam quentes e o feno cresce nas vinhas, Leonor.

Newsletter

O correio que traz poesia