Canção de embalar

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O gato do vento mia nas frinchas da janela.

“Dorme, menino, dorme.”

Teu pai
anda triste como as sombras
do fundo da cozinha
pois, há dois dias, o vento destroça
as inocentes videiras sem defesa.
Vê-se da janela o bailado infernal:
parecem virgens malucas
ou esqueletos a que roubassem a carne e a alegria.
Mas tu não olhes.

“Dorme, menino, dorme.”

Teu pai, apesar de tudo, não desespera
e traz uma estrela nos olhos
para te dar, quando adormeceres.

Dorme, enquanto o gato do vento mia nas frinchas da janela.

Música e interpretação por Blandino Soares

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