Meu pai, um como tantos

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Hoje, o meu pai trazia do campo
grinaldas de espinhos. O suor escorrendo
pela barba crescida. E botas e calças
empoeiradas. Como chuva de fogo
desabava, enorme, o sol.
Outros homens passavam silenciosos.
Meu pai desceu dos ombros o atomizador
donde um pingo azul de sulfato caía.
E, ali mesmo, amaldiçoou a terra,
ele que a ama como se fosse
minha irmã. Ó meu querido pai,
o teu suor escorreu-me no pensamento.
Guardo-o. Deixá-lo-ei envelhecer
como o nosso melhor vinho. Mais tarde
bebê-lo-ei, orgulhoso de ti.

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