7. A azeitona

Vista geral do Pinhão por Emílio Biel

O Grupo do Meio foi dar a uma aldeia em cujos terrenos ladeirentos abundavam olivais. Facilmente encontrou patrão que, mirados e remirados os farsolas, logo propôs trabalho no varejo das oliveiras e apanha da azeitona. Que sim-senhor, anuíram imediatamente. O mês de Dezembro corria friorento, com algumas rajadas de vento que faziam cair a azeitona, a qual, uma vez no chão, ficava cozida e recozida com a geada. Apenas chegaram ao olival, nuestros hermanos, porque tal azeitona lhes abria o apetite, começaram a manducá-la como viram fazer aos tordos,

– e estes bem gordinhos e ligeiros que andam.

O patrão, que não era trouxa, interveio, recomendando que comessem à-vontadinha, mas deixando cada um seu montinho de carunhas em cima de uma lájea. E eles, agradecidos:

– Prò céu vá o fidargo1.

Ao fim do primeiro dia de labuta, o dono saiu-se-lhes com esta, cofiando a barbicha:

– Bom, temos de fazer contas.

Olhou para os montículos de carunha e disse:

– Segundo os meus cálculos, vós ainda me deveis dinheiro, pois cada azeitona vale um tostão.

E eles meio azoinados:

– Prò inferno vá o fidargo.

E desandaram com o rabo entre as pernas.

  1. fidalgo ↩︎

in Douro – Estudos e Documentos, Outubro 2004