Um dia, iam de uma aldeia para outra e sentiram fome. Viram um portuguesito que estava a varejar umas nogueiras e lá lhes pareceu que eram pessegueiros. Regulavam mal da cabeça, tal a larica e a sede que deles se tinham apoderado. O mais afouto e reguila, o tal que contava os outros e não se contava a si, atreveu-se a pedir alguns pêssegos para ele e para os compañeros.
– Por favor, patrón. Dios le pagará.
O portuguesito espreitou o furo e descobriu uma oportunidade de descascar as nozes sem qualquer trabalho da sua parte. E disse:
– Muito bem. Ides encher a barriguinha dos melhores pêssegos que há no mundo e arredores. Nunca os ireis esquecer. Acreditais?
– Acreditamos.
– Ora vinde. Tendes aqui dois cestos cheios e ali outros dois ainda vazios. Podeis comer à vontade, mas com uma condição: papais a polpa sumuda, tanta quanta quiserdes, mas os caroços deitai-los nos cestos vazios, que é para eu os voltar a semear. E o que é certo é que os galegos, que já só viam pêssegos à sua frente, caíram facilmente na esparrela. Puseram-se então a manducar desalmadamente e comentavam, fazendo carantonhas a cada dentada:
– Amaruchar1 amarucham, mas pêssegos son.
- amargar ↩︎