2. Caíram todos ao rio

Pala, Douro, por Emílio Biel

Era uma vez vinte e cinco galegos como vinte e cinco burros que traziam vinte e cinco palos como vinte cinco traves. Atraídos pela fama de boa chelpa para os que trabalhavam nas vinhas do Douro, largaram por montes e vales, chegando em pleno Inverno, tempo de podas. Ao pé do rio, depois de tão longa caminhada, lembraram-se de verificar se algum deles teria ficado para trás e o mais corpulento, com ares de chefe, pôs-se a contar os do rancho, um a um. Só contava vinte e quatro e disse:

– Falta um.

Voltou a contar, mas como não se contava a si próprio,

– Coño! – disse. – Onde se terá metido o nosso compañero?

Puseram-se todos a magicar e a procurar por ali. Até que o matulão se debruçou numa ponte.

– Vinde cá, rapazes, vinde ver. O nosso compañero está no rio. Temos de o ir buscar, se não afoga-se.

Um a um, olharam todos para baixo e, como cada qual via a sua imagem na torrente, concordaram.

– Coño! E como havemos de lá ir?

– Fácil – alvitrou o chefe. – Eu penduro-me da ponte. Tu desces por mim abaixo e agarras-te aos meus pés, aquele desce também por nós e agarra-se aos teus e assim por diante – ia dizendo e apontando. – O raio da ponte é altarica, é, mas nós somos valentes e havemos de chegar à água.

Meu dito, meu feito. Estava o cordão formado, quando o do topo, estafado de aguentar com tanto peso, disse aos outros:

– Esperade aí, compañeros. Vou cuspinhar nas mãos que já me começam a esticar e a doer.
Desligou-se do bordo da ponte e caíram todos ao rio, chape, chuuu. Lá conseguiram sair, depois de muito batalhar estenderam-se no areal a secar ao pouco sol que restava da tarde. Estava frio e, como se aproximava a noite, foram à cabana de um pescador e pediram-lhe um agasalho, fosse o que fosse, para dormirem ali perto, debaixo de um salgueiro. O pescador, que sim-senhor e mais que também, emprestou-lhes uma rede de pescar, já velha e esfiapada. Agradeceram muito e lá foram à soneca.

in Douro – Estudos e Documentos, Outubro 2004